Hoje resolvi resenhar minha mais recente leitura, trata-se do livro "Juntando os Pedaços", da autora Jennifer Niven. E mais uma vez me pego agradecido por escolher ler esse livro, apesar de estar triste por terminar sua leitura tão rápido, e ficar apenas com aquele gostinho de quero mais...
Conhecemos aqui a história de Libby, uma jovem que parou de frequentar a escola há anos, presa em casa com depressão e ataques de pânico, após perder sua mãe. Libby começa a comer compulsivamente, e com o peso da grande perda, também acompanhando o sofrimento do pai, acaba descontando tudo na comida, e quando percebe já é a adolescente mais gorda dos Estados Unidos, chegando a precisar ser resgatada da sua própria casa, com guindaste e tudo.
Após uma crise de pânico muito intensa, ela acaba sendo hospitalizada, e com ajuda médica, e conselhos de sua única amiga, a Rachel, ela começa a se tratar e consegue emagrecer muitos quilos, no entanto, ainda continua sendo vítima da obesidade, e por ter virado matéria na cidade onde vive, passa a receber cartas, e-mails e muitas outras mensagens ofensivas, de pessoas que a odeiam pelo simples fato de ser gorda. A maioria dessas pessoas também odeiam o pai dela, pois o culpam pela situação da filha. Porém, mesmo com tudo isso, Libby decide que chegou a hora de encarar o mundo lá fora novamente, e volta pra escola para cursar o primeiro ano do Ensino Médio, cenário do início da narrativa.
Na escola também conhecemos Jack, um garoto de 17 anos que sofre de um distúrbio neurológico chamado "prosopagnosia", que o impede de reconhecer rostos, ele vê normalmente as pessoas, porém seu cérebro não é capaz de guardar as feições das mesmas, e com isso, basta ele parar de olhar para alguém que essa pessoa se torna estranha para ele. Jack tem noção de que possui um problema, no entanto, por mais que não consiga reconhecer nem mesmo as pessoas que mais ama, sua família, ele não conta nada para ninguém, e mascara sua incapacidade de reconhecer as pessoas se tornando um jovem descolado, popular.
Jack conhece Libby na escola, e ambos se aproximam quando ele faz uma brincadeira de muito mau gosto com a garota, mesmo que não tenha sido por maldade, Libby acaba socando ele, e ambos vão para a diretoria, e a partir daí vamos vendo o desenrolar de um romance adolescente.
O que mais me chamou atenção na obra, foi a forma que a autora conseguiu tornar a leitura leve e agradável, mesmo tratando de assuntos tão sérios como o Bullying, depressão, síndrome do pânico, preconceito, ela nos leva a tantas boas reflexões que por alguns momentos eu me sentia parte, um personagem da história.
Libby sofre muitas formas de preconceito na escola, pessoas olham feio para ela, continuam a lhe escrever cartas disseminando ódio gratuito, muitas vezes dizendo que ela não merece viver, e apesar de sofrer muito com isso, além dos medos comuns que ela já possui desde que perdeu sua mãe, ela é muito forte, enfrentando tudo de cabeça erguida, não se deixa abater, pelo menos não a ponto de voltar a ser como antes. Vemos nessa personagem uma maneira incrível de receber ódio e devolver amor, Libby está cansada de ter que abaixar a cabeça, de ser julgada pela aparência, ela quer que as pessoas passem a enxergar o interior das pessoas, e quer mostrar para o mundo que ninguém está sozinho, que em alguma parte sempre há alguém que gosta da gente.
A forma que Jack e ela se aproximam também nos fazem refletir, Jack é do tipo que prefere atacar todo mundo, numa forma de autodefesa, como se ele soubesse que em algum momento o mundo irá lhe atacar, além disso ele mata um leão por dia, se sente sozinho num mundo onde não pode reconhecer pessoas pela aparência, mas apenas por sinais que ele busca o tempo todo para reconhecer pelo menos os mais próximos. Apesar disso, mesmo vivendo uma vida que não é a dele, mascarando seu sofrimento dentro do personagem popular que criou, ele é muito preocupado com aqueles que o rodeiam, e acho muito lindo a forma como ama seu irmão caçula, e como faz de tudo para que ele não precise sofrer por ser um pouco diferente das outras crianças de sua idade.
Jack e Libby acabam se aproximando muito, e o mais interessante é que seus problemas são exatamente aquilo que os liga, e juntos eles precisarão encontrar uma maneira de sobreviver diante dessa sociedade que prefere julgar e atacar as pessoas pela aparência, ou melhor pelas diferenças, por aquilo que não se enquadra nos padrões. Porém as lições que esses personagens carismáticos trazem dão um tapa na cara dessa sociedade, e nos mostram que o que realmente importa é quem somos no interior, são nossas atitudes que irão determinar nossa marca no mundo, e que cada dia é único em nossas vidas, onde o agora é tudo que importa, e por isso eles escolhem seguir suas vidas buscando a felicidade.
São tantas passagens reflexivas, nos sentimos comovidos com o bullying que a Libby sofre, a ponto de querermos entrar na história para defendê-la, mas ao mesmo tempo percebemos que ela não precisa, pois é forte o suficiente para enfrentar suas dificuldades. Só quem já teve depressão ou ataques de pânico sabem o quanto isso é ruim, o quanto afeta a qualidade de vida, e autora conseguiu trabalhar isso da forma mais verídica possível, por momentos me perguntei se era realmente um obra fictícia ou relato de vida.. E além disso, com essa leitura descobri o drama de quem vive com prosopagnosia, doença que eu sequer sabia da existência, e talvez tenha sido isso que tornou o Jack o meu personagem favorito da história.
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