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Afinal, Capitu traiu Bentinho? "Analisando Dom Casmurro"..

Quem já teve algum contato com a Literatura Brasileira certamente já ouviu falar em Machado de Assis, e não há alma que conheça esse autor considerado maior representante  do "Realismo" brasileiro, que não tenha conhecimento da existência da obra "Dom Casmurro", um romance atemporal, narrado em primeira pessoa por Bento Santiago, que se autodenomina Dom Casmurro, apelido ganhado por gostar de viver recluso e solitariamente...

Fonte da imagem: http://obviousmag.org/despalavre/2015/dom-casmurro-contemporaneo.html

Bentinho, nosso "confuso" protagonista vive um dilema: descobre-se apaixonado por Capitu, uma garota astuta, muito inteligente e dissimulada que vive desde muito nova vizinha a sua casa, e ao mesmo tempo terá que entrar num seminário a fim de tornar-se padre e cumprir uma promessa antiga de sua mãe, D. Glória, mulher bondosa e muito religiosa.

O problema é que José Dias, um agregado da família passa a desconfiar da amizade de Bentinho e Capitu, e plantando a dúvida na cabeça de D. Glória, essa acelera o processo de mandá-lo ao seminário.

Sempre muito inteligente, Capitu, a menina com "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" , termo utilizado para destacar o olhar de mistério que a garota sempre teve para Bento, juntamente com Bentinho tentam a todo custo evitar que se cumpra esse destino, porém nada impede que Bentinho vá de fato para o seminário. Antes porém, ambos prometem que um dia se casariam, e mesmo que ele vá, encontrará um jeito de não se ordenar padre, e voltará ao encontro de sua amada.

Bentinho se alia a José Dias, esse movido por ambições própria, deseja viajar à Europa e vê em Bento a oportunidade de cumprir seu desejo, desde que esse saia do seminário e vá cursar Direito fora, porém ele também não tem sucesso nas suas tentativas.

Fonte da imagem: https://www.resumoescolar.com.br/literatura/resumo-dom-casmurro/

Já no seminário, Bentinho conhece Escobar, e esse torna-se seu melhor amigo, prova dessa amizade foi o fato de Escobar ter pensado numa solução para Bentinho deixar de vez o seminário. Sugeriu que D. Glória adotasse um garoto, pagasse suas despesas no seminário e assim cumprisse a promessa de encaminhar um padre a Deus. Ao consultarem o bispo, esse autorizou o pedido, fazendo-se cumprir a promessa.

D. Glória já não queria que Bentinho fosse mesmo padre, com isso se tornou muito próxima de Capitu, desejando que no fundo a garota conseguisse mudar o destino do menino, mas sempre temente, ela jamais foi capaz de assumir esse desejo, e talvez por vontade maior do destino, acabou dando tudo certo para ambos.

Fora do seminário, Bentinho foi cursar Direito, com os anos voltou formado, casou-se com Capitu, e continuou sendo muito amigo de Escobar.

Escobar também já era casado, e sua esposa era Sancha, a melhor amiga de escola de Capitu, e teve uma filha com ela, a qual deram o nome de Capitu, em homenagem a grande amiga do casal.

Bentinho e Capitu também tiveram um filho, o qual chamaram de Ezequiel, o primeiro nome de Escobar, também em homenagem ao amigo, que seria a princípio, padrinho do garoto, mas a pedido de "Tio Cosme", que vivia com D. Glória e prima Justina, Bentinho acabou mudando o padrinho para satisfazer o desejo de seu tio já doente do coração.

Com o nascimento de Ezequiel, chegamos ao clímax da obra, os ciúmes de Bentinho o levaram a desconfiar da fidelidade de Capitu. Antes menos acentuado, agora podemos nos dar conta da intensidade da insegurança e desconfiança de Bento Santiago. A princípio ele ainda disfarçava um pouco, mas a partir do momento em que Escobar morre, vítima de afogamento quando tentava nadar no mar, e ele observa Capitu com o olhar tão fixo no defunto, passa a ter certeza da traição.

Os anos vão se passando, e com o crescimento de Ezequiel, a certeza de que este é filho de Escobar só cresce, e Bentinho passa a odiar o garoto. Como solução para toda a raiva que sente de Capitu, acaba por decidir tirar sua própria vida, mas sua tentativa de suicídio é interrompida pela chegada de Ezequiel ao local do ato, esse pensa então em entregar o café envenenado para o próprio filho, mas vendo tanto amor que este sente por Bento, acaba desistindo, mas ainda assim menciona para o garoto que ele não é seu pai verdadeiro e daí o que restava do casamento com Capitu se vai.

Eles viajam para a Suíça, onde Capitu permanece com o filho, Bentinho volta para o Brasil e começa a manter um casamento de aparências para a sociedade. Viaja muitas vezes a Europa, fingindo ir se encontrar com sua esposa e filho, porém na verdade nunca mais volta a vê-la, e esta acaba morta e enterrada na Suíça, sem poder acabar com a saudade que ainda sente daquele que um dia foi tão amado, e também lhe deu tanto amor.

Mas e aí, houve ou não traição?

Essa é sem dúvida a intenção de Machado de Assis, deixar essa incógnita na cabeça do leitor. Durante toda a obra ele lança pistas da infidelidade da moça com "olhos de ressaca", outro apelido de Capitu, pelos mesmos motivos já citados. Não podemos ter a certeza se houve ou não adultério, principalmente pelo fato de Bentinho ser o narrador, e a história em primeira pessoa nos faz enxergar a narrativa sob a perspectiva do próprio "ciumento, possessivo e talvez paranoico" narrador.

Mas essa é mais uma característica maravilhosa da Literatura, o mistério e as lacunas para serem preenchidas a partir da interpretação dos leitores. Podemos nessa obra assumir papéis de advogados, como um dia foi Bento Santiago e começarmos a analisar melhor essas pistas a fim de desvendar esse grande mistério que tornou essa obra um dos maiores sucessos da nossa Literatura.

E você, o que acha afinal? Capitu, a jovem misteriosa e inteligente, capaz de tanta dissimulação enquanto criança e adolescente, mas que ao mesmo tempo foi capaz de esperar tanto tempo para conseguir ficar com seu grande amor, cometeu ou não adultério contra o ciumento obsessivo, porém bondoso e tão apaixonado Bentinho?

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