Aqueles que me conhecem bem, sabem da minha paixão pelo livro "O caçador de pipas", também escrito pelo Khaled, e o quanto essa obra foi importante na minha decisão de expandir minhas leituras, sair um pouco da minha zona de conforto e conhecer um pouco de outras culturas, como por exemplo, o Oriente Médio, local onde se passa o enredo de "A cidade do sol".
Nesse outro livro, adentraremos na cultura islâmica, vivenciando todo o drama de quem realmente passa por tudo aquilo, o contato constante com as guerras, morte, sofrimento e desapego o qual os personagens são obrigados a lidar constantemente.
Logo no início do livro somos apresentados a Mariam, uma jovem harami, fruto do envolvimento de Jalil, um rico empresário, com sua empregada Nana. Por estar grávida, Nana teria que sair da casa onde trabalhava, e para evitar a desonra da família, Jalil acabou comprando uma kolba longe da cidade, num local isolado para que lá Mariam pudesse nascer e ser cuidada por sua mãe, uma mulher frustrada e com péssima visão da vida e do mundo fora de sua casinha.
Mariam tinha a visita de seu pai uma vez por semana, e quando sabia que a quinta-feira se aproximava, a ansiedade tomava conta de si. Ela tinha convicção de que se morasse com ele e seus 10 irmãos, sua vida seria perfeita, livre de qualquer dor e sofrimento.
A menina pede que o pai a leve ao cinema como presente de aniversário, se arruma dentro das suas "pobres" possibilidades, e sente-se extremamente triste e chateada quando ele não aparece para levá-la. Ainda tentando acreditar que algo havia acontecido, ela toma coragem e pela primeira vai até a cidade, encontra a casa do pai, mas se decepciona quando tem que passar a noite toda na rua, na calçada daquela casa luxuosa para o padrão da época, e mais triste ainda por saber que seu pai estava ali mas não quis recebê-la.
Na volta dela pra casa ela tem que lidar com a perda da mãe, que suicidou-se por achar que a filha a abandonara. Mariam fica muito triste e passa a sentir-se culpada por aquilo. Com a morte da mãe, Mariam passaria a viver com seu pai. Porém até ela se surpreende com a rapidez que seu pai, juntamente com suas esposas arranjam um casamento para a filha de apenas 15 anos. O marido é um sapateiro chamado Rashid que era muito mais velho que ela, viúvo e amargurado por perder sua esposa e também seu filho.
Nesse casamento começa o sofrimento maior de Mariam, totalmente vulnerável e oprimida pelo marido. Eles passam a viver em Cabul, e a princípio ele (Rashid) não se mostrava uma pessoa ruim, porém a medida que Mariam engravidava e perdia seus bebês ele passou a desprezá-la e humilhá-la constantemente, agredindo e ferindo-a fisicamente e moralmente com todas as ofensas.
Em Cabul, somos apresentados a segunda protagonista, Laila, uma jovem filha de um ex professor universitário, e uma mulher depressiva e amargurada que esperava ansiosamente o dia que seus dois filhos mais velhos voltariam da guerra. Mas isso não acontece.
Laila é uma jovem inteligente e determinada. Totalmente diferente de Mariam, mas com um destino parecido. A jovem vive uma paixão singela por Tariq, seu melhor amigo, um garoto que perdeu uma perna vítima de um ferimento grave ocasionado por uma granada. A medida que o tempo vai passando, e eles vão crescendo, acabam se envolvendo, e Laila se entrega a Tariq, mesmo sabendo que ele vai embora com sua família, fugindo da guerra.
Nesse meio tempo Laila perde os pais, vítima de uma explosão na sua casa causada por um míssil, que constantemente eram lançados e destruíam casas e vidas de gente que se rebelavam contra o governo, ou simplesmente iam contra suas imposições.
Perdida e sozinha, Laila é socorrida por Rashid e levada para sua casa. Ela passa algum tempo se recuperando do ataque que matou seus pais e a deixou gravemente ferida. E nesse meio tempo percebe que está grávida e também passa a creditar que Tariq foi morto também vitimado pela guerra que tomava de conta de todo o estado. Sem muitas opções ela aceita se casar com Rashid para fingir que a menina, que depois viera a nascer, era sua filha.
Mariam e Laila de início não se davam bem, por a primeira mulher não querer dividir o marido, mas depois que a Aziza nasce, filha de Laila, e aos poucos vai ganhando o coração de Mariam, as duas mulheres descobrem uma forte amizade que as ajudaria a sobreviver a todo o sofrimento que passavam com o marido, que agora passou a agredir e humilhar Laila.
O livro é narrado em 3ª pessoa, mas vai alternando entre as perspectivas das duas protagonistas, Hosseini consegue deixar a leitura interessante pelo fato de ser algo contínuo, onde muitas vezes a cena começa pela perspectiva de Mariam, mas só acaba com a narrativa já voltada para Laila, e isso nos faz querer avançar cada vez mais na leitura para chegar no capítulo seguinte e saber o desfecho de todos fatos.
Ainda nessa leitura temos que lidar com a separação de Laila e sua filha mais velha, Aziza, filha de Tariq, que Laila é obrigada a deixar num orfanato, para que não morra de fome e ali possa aprender algo junto com tantas outras crianças que os pais eram forçados a deixarem ali. A garotinha é outro exemplo de coragem e determinação, trazendo reflexões também emocionantes que te farão querer entrar no livro e tirá-la de todo aquele sofrimento a qual todo mundo era submetido.
É junto com essas duas protagonistas tão distintas a princípio, mas que encontram coragem uma na outra para enfrentar, humilhação, agressão, sofrimento, fome, miséria, perdas e danos inimagináveis que nos prendemos nessa triste história, com o Estado Islâmico e todas as atrocidades ali cometidas como pano de fundo da história. Onde em cada capítulo percebemos o quanto podemos ser felizes com tão pouco. E o que torna a leitura mais pesada é saber que por mais que a obra em si seja fictícia, sempre existirá uma Laila ou Mariam enfrentando tudo aquilo dentro da sociedade tão carrasca e inaceitável como a de quem vive no Afeganistão.
Se antes já era fã do Khaled, agora passei a ser muito mais. E por mais que você precise ser forte para aguentar tanto sofrimento em suas obras, elas nos ajudam a refletir sobre tantos aspectos importantes, que a cada nova página é um novo aprendizado. Esse livro por exemplo me obrigou a pausas reflexivas, onde eu precisava absorver e digerir aquela avalanche de emoções para então me preparar para as próximas.
Minha vontade após terminar esse livro magnífico, era sair por aí obrigando todo mundo a ler, e ainda sentir todas emoções que até agora estou sentindo. Fiquei completamente apaixonado pelas duas personagens centrais, e confesso que muito mais marcado por todo o processo de amadurecimento de Mariam no decorrer da trama. A forma como ele deixou de ser a esposa submissa e amedrontada, e passa a lutar com unhas e dentes pela liberdade e felicidade de Laila e seus filhos.
Fonte da imagem: https://www.saraiva.com.br/a-cidade-do-sol-9462072.html |
Nesse outro livro, adentraremos na cultura islâmica, vivenciando todo o drama de quem realmente passa por tudo aquilo, o contato constante com as guerras, morte, sofrimento e desapego o qual os personagens são obrigados a lidar constantemente.
Logo no início do livro somos apresentados a Mariam, uma jovem harami, fruto do envolvimento de Jalil, um rico empresário, com sua empregada Nana. Por estar grávida, Nana teria que sair da casa onde trabalhava, e para evitar a desonra da família, Jalil acabou comprando uma kolba longe da cidade, num local isolado para que lá Mariam pudesse nascer e ser cuidada por sua mãe, uma mulher frustrada e com péssima visão da vida e do mundo fora de sua casinha.
Mariam tinha a visita de seu pai uma vez por semana, e quando sabia que a quinta-feira se aproximava, a ansiedade tomava conta de si. Ela tinha convicção de que se morasse com ele e seus 10 irmãos, sua vida seria perfeita, livre de qualquer dor e sofrimento.
A menina pede que o pai a leve ao cinema como presente de aniversário, se arruma dentro das suas "pobres" possibilidades, e sente-se extremamente triste e chateada quando ele não aparece para levá-la. Ainda tentando acreditar que algo havia acontecido, ela toma coragem e pela primeira vai até a cidade, encontra a casa do pai, mas se decepciona quando tem que passar a noite toda na rua, na calçada daquela casa luxuosa para o padrão da época, e mais triste ainda por saber que seu pai estava ali mas não quis recebê-la.
Na volta dela pra casa ela tem que lidar com a perda da mãe, que suicidou-se por achar que a filha a abandonara. Mariam fica muito triste e passa a sentir-se culpada por aquilo. Com a morte da mãe, Mariam passaria a viver com seu pai. Porém até ela se surpreende com a rapidez que seu pai, juntamente com suas esposas arranjam um casamento para a filha de apenas 15 anos. O marido é um sapateiro chamado Rashid que era muito mais velho que ela, viúvo e amargurado por perder sua esposa e também seu filho.
Nesse casamento começa o sofrimento maior de Mariam, totalmente vulnerável e oprimida pelo marido. Eles passam a viver em Cabul, e a princípio ele (Rashid) não se mostrava uma pessoa ruim, porém a medida que Mariam engravidava e perdia seus bebês ele passou a desprezá-la e humilhá-la constantemente, agredindo e ferindo-a fisicamente e moralmente com todas as ofensas.
Em Cabul, somos apresentados a segunda protagonista, Laila, uma jovem filha de um ex professor universitário, e uma mulher depressiva e amargurada que esperava ansiosamente o dia que seus dois filhos mais velhos voltariam da guerra. Mas isso não acontece.
Laila é uma jovem inteligente e determinada. Totalmente diferente de Mariam, mas com um destino parecido. A jovem vive uma paixão singela por Tariq, seu melhor amigo, um garoto que perdeu uma perna vítima de um ferimento grave ocasionado por uma granada. A medida que o tempo vai passando, e eles vão crescendo, acabam se envolvendo, e Laila se entrega a Tariq, mesmo sabendo que ele vai embora com sua família, fugindo da guerra.
Nesse meio tempo Laila perde os pais, vítima de uma explosão na sua casa causada por um míssil, que constantemente eram lançados e destruíam casas e vidas de gente que se rebelavam contra o governo, ou simplesmente iam contra suas imposições.
Perdida e sozinha, Laila é socorrida por Rashid e levada para sua casa. Ela passa algum tempo se recuperando do ataque que matou seus pais e a deixou gravemente ferida. E nesse meio tempo percebe que está grávida e também passa a creditar que Tariq foi morto também vitimado pela guerra que tomava de conta de todo o estado. Sem muitas opções ela aceita se casar com Rashid para fingir que a menina, que depois viera a nascer, era sua filha.
Mariam e Laila de início não se davam bem, por a primeira mulher não querer dividir o marido, mas depois que a Aziza nasce, filha de Laila, e aos poucos vai ganhando o coração de Mariam, as duas mulheres descobrem uma forte amizade que as ajudaria a sobreviver a todo o sofrimento que passavam com o marido, que agora passou a agredir e humilhar Laila.
O livro é narrado em 3ª pessoa, mas vai alternando entre as perspectivas das duas protagonistas, Hosseini consegue deixar a leitura interessante pelo fato de ser algo contínuo, onde muitas vezes a cena começa pela perspectiva de Mariam, mas só acaba com a narrativa já voltada para Laila, e isso nos faz querer avançar cada vez mais na leitura para chegar no capítulo seguinte e saber o desfecho de todos fatos.
Ainda nessa leitura temos que lidar com a separação de Laila e sua filha mais velha, Aziza, filha de Tariq, que Laila é obrigada a deixar num orfanato, para que não morra de fome e ali possa aprender algo junto com tantas outras crianças que os pais eram forçados a deixarem ali. A garotinha é outro exemplo de coragem e determinação, trazendo reflexões também emocionantes que te farão querer entrar no livro e tirá-la de todo aquele sofrimento a qual todo mundo era submetido.
É junto com essas duas protagonistas tão distintas a princípio, mas que encontram coragem uma na outra para enfrentar, humilhação, agressão, sofrimento, fome, miséria, perdas e danos inimagináveis que nos prendemos nessa triste história, com o Estado Islâmico e todas as atrocidades ali cometidas como pano de fundo da história. Onde em cada capítulo percebemos o quanto podemos ser felizes com tão pouco. E o que torna a leitura mais pesada é saber que por mais que a obra em si seja fictícia, sempre existirá uma Laila ou Mariam enfrentando tudo aquilo dentro da sociedade tão carrasca e inaceitável como a de quem vive no Afeganistão.
Se antes já era fã do Khaled, agora passei a ser muito mais. E por mais que você precise ser forte para aguentar tanto sofrimento em suas obras, elas nos ajudam a refletir sobre tantos aspectos importantes, que a cada nova página é um novo aprendizado. Esse livro por exemplo me obrigou a pausas reflexivas, onde eu precisava absorver e digerir aquela avalanche de emoções para então me preparar para as próximas.
Minha vontade após terminar esse livro magnífico, era sair por aí obrigando todo mundo a ler, e ainda sentir todas emoções que até agora estou sentindo. Fiquei completamente apaixonado pelas duas personagens centrais, e confesso que muito mais marcado por todo o processo de amadurecimento de Mariam no decorrer da trama. A forma como ele deixou de ser a esposa submissa e amedrontada, e passa a lutar com unhas e dentes pela liberdade e felicidade de Laila e seus filhos.
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